sábado, 15 de outubro de 2011

Gene Callahan - O que é uma ciência apriorística, e por que a economia é uma

"Não é incomum encontrar pessoas muito inteligentes que, mesmo tendo grandes simpatias pela economia política de Ludwig von Mises, se sentem confundidas pelos seus métodos ou até mesmo negligenciam os preceitos metodológicos que guiam sua teoria econômica. Mais tipicamente, essas objeções são particularmente dirigidas à asserção enfática e sempre repetida por Mises que postula que o núcleo da teoria econômica é composto de conceitos a priori - isto é, proposições cuja validade é atingida por contemplação ao invés de por pesquisa empírica. Essas pessoas normalmente consideram esse aspecto do pensamento de Mises como sendo contrário aos princípios científicos modernos, como se fosse um fóssil vivo, uma besta arcaica que deveria ter sido extinta junto com o racionalismo abstrato da era anterior à Revolução Científica.

Devido aos vários diálogos que já tive com tais críticos, creio que detectei um equívoco frequente sobre o que significa o fato de uma proposição ser, em si, uma verdade a priori para algum assunto. Esse erro não apenas causa confusão a respeito da metodologia econômica de Mises, mas também obscurece os verdadeiros fundamentos das ciências empíricas que, justificadamente, muitas dessas pessoas tanto admiram.

Pelo que entendo de Mises, ao caracterizar os princípios fundamentais da economia como verdades a priori e não como fatos incertos abertos a descobertas ou refutações empíricas, ele não estava dizendo que as leis econômicas nos foram reveladas por ação divina, como os dez mandamentos foram a Moisés. Ele também não estava alegando que os princípios econômicos são transferidos automaticamente aos nossos cérebros pela simples evolução humana, nem que podemos compreendê-los e articulá-los sem antes ter ganhado familiaridade com o comportamento da economia através da participação e da observação dela em nossas próprias vidas. Na verdade, é bem possível que alguém tenha tido uma boa dose de experiência real com a atividade econômica e, ainda assim, nunca ter imaginado quais os princípios básicos - se algum - ela exibe.

Ainda assim, Mises estava certo ao descrever estes princípios como apriorísticos, porque eles são logicamente anteriores a qualquer estudo empírico de fenômenos econômicos. Sem eles é impossível até mesmo reconhecer que há uma classe definida de eventos que podem ter explicações econômicas. Somente ao pré-supor que conceitos como intenção, propósito, meios, fins, satisfação, e insatisfação são características de um certo tipo de acontecimento no mundo é que podemos conceber um tema para a economia investigar. Esses conceitos são pré-requisitos lógicos para distinguir um assunto ligado a eventos econômicos de outros assuntos ligados a eventos não-econômicos, como o tempo, o percurso de um planeta pelo céu noturno, o crescimento das plantas, o quebrar das ondas no litoral, a digestão animal, vulcões, terremotos, entre outros.

Se não assumíssemos em princípio que as pessoas deliberadamente empreendem atividades previamente planejadas com a intenção de tornar sua situação - como elas subjetivamente a vêem - melhor do que em relação à situação em que outrora estariam, não haveria uma base para diferenciar as trocas que ocorrem na sociedade das trocas de moléculas que ocorrem entre dois líquidos separados por uma membrana permeável. E os aspectos que caracterizam os membros da classe de fenômenos selecionada como tema de uma ciência especial devem ter uma condição axiomática para os praticantes dessa ciência, pois se os praticantes rejeitarem esses aspectos então eles também estarão rejeitando os fundamentos para a existência dessa ciência.

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Leia o texo na íntegra no: Instituto Ludwig von Mises Brasil.

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