terça-feira, 5 de abril de 2011

Filosofia da História - Introdução

F. Hegel, o filósofo da história par excellence
A expressão "Filosofia da História" está longe de delimitar uma disciplina específica ou um conjunto claro de questões que teriam ocupado os filósofos marginalmente à constituição dos grandes sistemas teóricos. Na verdade, sob essa rubrica se alocam ordinariamente reflexões muito heterogêneas, desde uma parte não desprezível da  Sienza Nuova de Vico, passando pelas diversas interpretações do processo histórico em Kant, Herder, Condorcet, Hegel, Marx etc,  até as teorias mais propriamente epistemológicas que se desenvolvem no século XX (Foucault, Popper,  Walsh, Blake etc).

A esse respeito, Patrick Gardiner[1] defende que “o termo ‘filosofia da história’ foi aplicado, algo indistintamente, a todos os planos especulativos do gênero que formam mencionados.” [alguns dos quais elencados no anterior parágrafo]. Donde conclui que “o que os projectos habitualmente designados por ‘filosofias da história’ têm muitas vezes em comum é o propósito de oferecer uma exposição completa do processo histórico de forma a poder ver-se que ‘faz sentido’.”

Ora, esse indício está longe de delimitar precisamente o escopo da intersecção entre Filosofia e História por muitas razões. Primeiro porque como o próprio Gardiner reconhece as filosofias que se estruturaram como interpretações do processo histórico são historicamente localizáveis tendo se obscurecido no século XX a partir da precedência das análises de caráter mais epistemológico. Se Spengler e Toynbee ainda testemunham uma sobrevivência tardia do caráter especulativo e sistematizador das antigas filosofias da história (da qual, por óbvio, Hegel é o exemplo idiossincrático), a maior parte da produção teórico-filosófica a intersectar o ofício dos historiadores há de se compor em trabalhos analíticos do método, das categorias e procedimentos historiográficos. 

M. Foucault, filósofo-historiador do século XX
Assim, somente no século XX os filósofos tencionaram abandonar a ontologia regional da história em favor da analítica do saber histórico, processo já inteiramente consumado no domínio das ciências da natureza. É verdade que a precariedade própria do saber histórico em confronto com a Física, por exemplo, tende a revelar, na primeira os pressupostos metafísicos que frequentemente mal são percebidos na segunda; é verdade também que os pressupostos parecem muito mais numerosos na História, muito mais arbitrários e moventes. Contudo, a correlação fundamental entre Filosofia e História a partir de meados do século XX indica claramente que o resíduo metafísico das grandes interpretações do processo histórico tende mais a se sedimentar como pressuposto oculto (o que não diverge muito de qualquer outra ciência) do que a aflorar como questão independente na ordem do dia.



[1] Gardiner.Teorias da História. Lisboa, 2004

2 comentários:

Sobrenada disse...

"amo filosofia e história mas nao tenho muita paciência para ler" rsrsrsrs Brincadeirinha ! Parabéns

Ricardo Moura Borges disse...

o filósofo exerce um grande papel na sociedade. Hoje vemos o crescente amor que se tem pela filosofia.